sábado, dezembro 23, 2006

Algo como eu

Lembro-me daquela tarde encostada à janela da varanda a ver a chuva nas folhas e a ouvir qualquer coisa que na altura me pareceu bem. As poças de água acumulavam-se nos vasos gigantescos e eu enrolada em lençóis caminhava pelos corredores sentindo-me sem essência. A tristeza ela própria parecia sem essência, como se estivesse entretecida em mim. Nada de desespero, só a tristeza e nem passado nem futuro, mas só a luz cinzenta de um dia de Outono em que eu não percebia como era possível sobreviver assim, sem qualquer vontade de viver. Contudo, o prosaico de eu ir mudando os CDs na aparelhagem, enchendo a casa de passos de música e silêncio, que eu executava sem sossego, demonstravam que eu não estava morta, eu era morta. A minha sobrevivência é a colecção da vida por entre a morte.

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