quinta-feira, janeiro 15, 2009

Uma pequena apresentaçao.

Gosto de passear, vaguear por ruas que não conheço. Ouvir conversas de estranhos, entrar no pequeno mundo deles naquele preciso momento, imaginar para onde vao. Aprecio as maiores patetices que vejo na rua. Rio sempre com um esgar escondido. Adoro ver que as pessoas se sentem intrigadas comigo. Banalidades crueis. Adoro andar descalça num chao cheio de pedrinhas, ficar completamente desprovida de protecçao. Lembro todos os dias o quanto gostava da minha casa, do meu cantinho, do meu refugio. Recordo as pessoas que perdi. Tinha uma lista. Pequena. Precisa. Gostar apenas de quem gosta de mim. Chorar apenas quando a dor e demais. Correr apenas quando não consigo andar. Sorrir. Sempre. Amar os meus pais. Ser um exemplo para a minha irma. Ter orgulho no que sou. No que me tornei. Não temer cruelas que se atravessam sem bater. Ter amigos. Aprender a gostar dos meus amigos. Sofrer. Nunca. Desistir. Quando há saida melhor. Perder-me nos sonhos. Sonhar que uso rastas, que falo criolo, que tenho um sorriso lindo. Que amanha vou ter um novo desafio para juntar aos demais. Saber que no fundo sou uma criança a precisar de atençao, de carinho, de um abraço amigo. Gosto de me mascarar. Ontem não fui o que sou hoje. E depois… e depois sou eu.
Tenho a familia perfeita. A minha mae é linda, e pura. Não me magoa. Apoia-me em tudo o que faço, ate mesmo aquelas patetices. Tem sempre razao. Nunca ate agora se enganou. Sempre foi sabia para me dar os melhores conselhos. Nem sempre os ouvi. Sou teimosa para sofrer sozinha. Tem garra e luta pelo que quer. Nunca me abandonou. Foi comigo descobrir os primeiros amigos. E a melhor amiga que posso ter. Nunca me pediu mais do que aquilo que sou. Gosto dela incondicionalmente. A maluca da minha irma… Essa miuda vai ter tudo o que quer. É pura. Forte. Mais do que algum dia serei. Mimaram-me demais. Ela ve o que mais ninguem ve. Ela sabe. É linda aquela miuda. Tem um sorriso puro. Nunca fingiu nem mentiu. Adora os amigos. Não estou a fazer o que devia. Falhei. Devia estar mais presente. Mostrar o que não deve fazer, mostrar que todos erramos menos ela. Que nada do que possamos dizer é suficiente. Há muito mais a descobrir. Há todo um mundo. Vai ter tempo a miuda. Vai ver muito mais do que eu. Vai ser feliz. É um ciclo.
Tenho pessoas que gostam de mim, que me levantam quando caio. Pessoas que tenho vindo a conhecer realmente nos ultimos meses. Familia que se tornou mesmo familia. O resto ficou paisagem. Um dia frio de inverno que ninguem gosta de sentir. Não quando não estamos preparados para o suportar.
Não sou egoista. Sempre dei mais do que recebi. Isolei-me. Apenas isso. Esqueci o quanto gosto de saborear o sol. O quanto e bom rir so porque me apetece. Deixei de apreciar as coisas que mais gostava. Entrei demasiado nos meus mundos. Já conheci muitos passei por outros tantos. Este assusta. É sombrio demais. Saber que sozinha vou atravessar a ponte sem saber se vou cair. Sem saber se voltarei. Usar um lenço nunca me assustou. O cabelo e lindo mesmo que não o tenha. Tenho um cabelo bonito. É rebelde. Teimo em amestra-lo. Não devia. O vento sabe melhor. E depois… e depois continuo a ser eu. Sozinha. Nunca. Tenho em mim tudo o que preciso para conseguir. Amanha… não sei… basta saber que não vai doer. Dizem que não doi. Depois de começar tudo passa. E depois… vou continuar a ser eu. Mais branca. Sem cor alguma. Vou continuar a ter o meu esgar. Vou ser sempre matreira. Vou continuar a fazer rir quem gosto mesmo que tudo em mim esteja em contagem.
O mais ridiculo e mesmo pensar no amanha. Não sei como vai ser. Não sei sequer se vou ter vontade. Se pudesse fazia tudo hoje. Vivia tudo hoje e morria depois. Cansa demais ter que passar por tanta coisa so para ter o mesmo que toda a gente. Não quero isso. Para que? Para pensarem que sou feliz? Mas eu sou. Eu sou. Fico feliz quando chego a casa e tenho alguem a minha espera. Tenho sempre alguem a minha espera. Passo o dia a falar. A discutir. A ficar completamente farta dos dias que são todos iguais.
Não tenho uma casa. Tenho muitas. Não tenho uma minha, mas tenho algumas onde me sinto bem. Na verdade não tenho muito. Pensando bem não tenho. Nem vou ter. A força esgota-se. Tenho uma familia so minha. Isso tenho. A vontade. Ridicula que é.
Pensar que podemos perder tudo agora. Assusta-te? É um alivio não sejas idiota. Há coisas que não podes ter. E pronto. Não chega o que tens? Tens mais do que aquele miudo que viste ontem na rua. Sabes que tens. Queres mais para que? Nem devias ter tanto. És ridicula. Amanha perdes o que tens e mesmo assim vais ter tudo. Eu sei que vou ter.
Há coisas que perdemos. Fazemos tudo para voltar a ter. Fazemos malabarismo se for preciso, e isso vindo de mim que tenho os movimentos limitados é um grande feito. E tudo isso porque? Porque amas, porque precisas, porque queres, porque é uma parte de ti. Porque é o que faz falta em momentos como este. Porque… somos egoistas… mimaram-me demais. Para e pensa. Não e mais teu. Não vai mais ser teu. Não como queres. Não sejas egoista. E depois… e depois vives com o que tens. Vives ate que pare de doer. Ate que tenhas uma nova dor para substituir. Ate que tudo o resto doa tanto que isso não passe de nada. E se sobreviver? Segues em frente e ris com o esgar. Sempre. Segues em frente e és feliz. Sabes que num dos teus mundos há uma escada. Não pares no primeiro degrau. Continua a sonhar com o topo. Lembra-te do que dizias quando rias e rias sem parar na tua cozinha a fazer aquele bolo de chocolate que saia sempre mal. Lembra-te no que dizias a tua mae. Tens um mundo tao grande para descobrir. Tanto para ver e conhecer. Queres o meu apoio? Sabes que o meu não tens. Mas e depois… e depois segues em frente. Deixas seguir em frente quem mais amas. Deixas que quem mais ames seja feliz com alguem melhor que tu. Que sinta tudo o que querias que sentissem juntos. Nunca somos a melhor escolha. Não és e tu sabes. Temos sempre alguem melhor. E depois… e depois que não tenhas… mimaram-me demais.. que raiva. Pensa. Sim… tudo isso e muito mais. Agora para.
Gosto de passear, vaguear por ruas que não conheço. Ouvir conversas de estranhos, entrar no pequeno mundo deles naquele preciso momento, imaginar para onde vao. Tu vais para casa. Porque tens sempre alguem a tua espera.
A vida é cruel. Amar e morrer. Odiar e viver.